Por Alvaro Azanha (How2Pack) e Renato Larocca (Side)
Foi realizada no mês passado em Dusseldorf, na Alemanha, a 22ª edição da feira interpack, organizada pela Messe Düsseldorf e que acontece a cada três anos desde 1958.
Depois de uma longa pausa de seis anos devido à pandemia do covid-19, a interpack 2023 vinha sendo aguardada por todos os profissionais do setor, tanto pelos assíduos frequentadores quanto pelos que estavam visitando pela primeira vez, ansiosos para descobrir os últimos avanços tecnológicos e se conectar com especialistas do setor de embalagens do mundo todo.
Os números da feira foram mais uma vez impressionantes, mais de 2,8 mil expositores distribuídos em 18 pavilhões, atraindo cerca de 143 mil visitantes de 155 países, reforçando sua posição como plataforma global para o intercâmbio entre todos os participantes do setor de embalagens, indústrias de processo relacionadas e todas as indústrias usuárias.
Estivemos refletindo sobre como teria sido a edição da interpack no ano de 2020, quando enfrentávamos o início, senão o auge, da pandemia que assolou o planeta. A embalagem, até aquele momento, era vista como a grande vilã do meio ambiente, principalmente as embalagens plásticas, provenientes de resinas de fonte fóssil, não renováveis, poluindo os mares, matando peixes e pássaros, entupindo bueiros e causando impactos ambientais irreparáveis. Com o advento da pandemia, os materiais plásticos, incluindo a embalagem, passaram a ser vistos de forma diferente, especialmente os descartáveis, de uso único. Máscaras, luvas e potes plásticos contendo álcool gel foram disputados ferozmente em cada farmácia e ponto de venda no mundo todo.
Na interpack, definitivamente não houve como contornar tópicos como Economia Circular, Reciclagem, Novos Materiais, Economia de Material e Energia. A Sustentabilidade também foi um tópico em 2017, mas não com essa amplitude e intensidade. As embalagens estão se tornando mais leves e mais amigáveis à reciclagem. Os fabricantes estão tentando usar mais monomateriais e reciclados. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a riqueza de soluções na interpack 2023 foi impressionante.
O setor pode não ter se reinventado completamente, mas há diferenças claras em termos das Megatendências de Sustentabilidade e Digitalização. Ambas estiveram absolutamente em foco este ano.
Passado este período mais crítico, o que se percebe é um amadurecimento da indústria, comércio e de consumidores em geral sobre a importância do adequado design da embalagem, dentro de uma ótica mais abrangente, que olha, sim, o descarte final após consumo, porém, sem tirar os olhos das suas funções fundamentais na conservação e proteção, no transporte, na distribuição e na comercialização dos produtos. Isso sem mencionar a rastreabilidade, tão importante nos dias de hoje, que por fim viabiliza seu acesso pelos consumidores.
Após uma semana intensa passeando entre os corredores dos 18 pavilhões da Messe, os principais tópicos que identificamos foram: “Economia Circular”, “Digitalização”, “Segurança de Produto” e “Conservação Energética”.
Macrotendências / hot topics
Economia Circular: mais uma vez o papel protagonista da embalagem nas questões ambientais foi evidenciado na feira. As indústrias fabricantes de embalagem têm focado seus esforços no sentido de ajudar os Donos de Marca (em inglês Brand Owners) a atingirem suas metas de Sustentabilidade, como por exemplo maior Reciclabilidade de suas embalagens, Redução de resíduos de descarte, Uso de Resinas Recicladas pós consumo (PCR) e Soluções de Refil e Reutilização de embalagens finais e intermediárias.
Várias soluções foram apresentadas, como deixar as embalagens mais leves (lightweighting) e simplificar estruturas multicamadas não recicláveis, como os laminados com PET, sendo substituídos, por exemplo, por monopolímeros como o MDO-PE, que se obtém através da orientação do polietileno na direção de máquina, conferindo ótimas propriedades de resistência, brilho, transparência e rigidez. O uso de PET reciclado pós-consumo com grau alimentício também esteve bem difundido em várias empresas.
Uma menção a parte foram as soluções em papel e papelcartão como substitutas parciais ou até totais às embalagens plásticas, num movimento chamado “paperization”. Alguns exemplos foram os papéis com propriedades de termosselagem, aplicados em flowpacks verticais ou horizontais, papeis termoformados, garrafas, filme Stretch para paletização.
A empresa de equipamentos Weber apresentou na feira a termoformadora wePACK 7000, para termoformagem e termosselagem, que pode trabalhar com uma estrutura “fiber-based” composta por um laminado com papel e plástico barreira, podendo ser indicada para salsichas, fatiados, queijos e outros que necessitem de vácuo ou atmosfera modificada.
Digitalização: um tema difundido na maioria dos pavilhões da feira foi o de que a digitalização veio para ficar. Big Data e Manutenção Remota de máquinas há muito tempo estão disponíveis, mas a tecnologia digital aplicada à embalagem tem sido vista como complementar e colaborativa às questões de sustentabilidade. Todas as tecnologias de conexão, como os códigos QR, Realidade Aumentada, Escaneamento por Smartphone, Rastreamento e Monitoramento, vêm se tornando a cada dia indispensáveis na maioria dos modelos de negócios. O campo do comércio eletrônico é um exemplo claro disso. As tecnologias de rastreamento e monitoramento, como o sistema HOLY GRAIL 2.0, apresentado na feira, que permite a classificação correta e automatizada de embalagens no pós-consumo, por meio de uma marca d'água digital, já desempenham um papel importante na cadeia de reciclagem.
Segurança de produto: outro “hot topic” percebido nesta edição da interpack foi um relacionado a uma das principais, senão a principal função da embalagem que é a proteção e segurança do produto. Provavelmente impulsionado pela própria pandemia, a necessidade de conferir segurança ao consumidor se tornou fundamental, verificado com maior evidência nos segmentos de alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos. Várias empresas apresentaram soluções de lacres, dispositivos para evidência de violação, equipamentos detectores de corpos estranhos em linha, processos para checagem da hermeticidade das embalagens, integridade de selagem, vácuo, controle da atmosfera, além do já consagrado Código QR usado para conferir rastreabilidade de lote e garantia de origem dos produtos.
Aliás, especificamente sobre os códigos QR, além da segurança direta do produto, a embalagem também começa a oferecer um valor agregado inesperado. O setor já está contribuindo com melhorias na área de desperdício de alimentos por meio de soluções inovadoras de embalagem. Instruções como as famílias podem reaproveitar alimentos não consumidos, evitando que sejam jogados fora, ou como orientar o consumidor que o produto contido na embalagem não mais está viável para o consumo, são exemplos de design mais inteligente para as embalagens.
Conservação energética: a economia global, mais do que nunca, está marcada por um gargalo de fornecimento e escassez de recursos e materiais. Em todo o mundo o foco está na proteção do clima, na busca por recursos que sejam renováveis e por uma economia cada vez menos linear e mais cíclica. Dessa forma, o setor de embalagens, sempre muito atento e dinâmico em tudo o que está acontecendo, vem se concentrando na eficiência dos recursos para sua produção e comercialização. Desafios de como os processos de produção podem ser reorganizados e como os fluxos de materiais devem ser ajustados são o dia a dia entre todos os elos da cadeia da embalagem. Qual é o papel do uso eficiente de energia ou da mudança para energia verde?
Muitos expositores de equipamentos na feira apresentavam suas tecnologias de produção e envase, fazendo questão de mencionar suas eficiências energéticas como um apelo sustentável. Isso demonstrou o quão maduro está o conceito da Sustentabilidade, para uma abrangência bem maior do que os limites das embalagens em si, suas matérias-primas e descartes no pós-consumo.
Além dessas questões, é imperativo que sejam usados em áreas anteriormente incomuns novos materiais e aditivos, como os bioplásticos; que estes sejam investigados em relação a seus cultivos e extrações até às suas áreas de aplicação se comparado com os materiais convencionais, como o papel.
A interpack foi, mais uma vez, a vitrine para inovações e, ao mesmo tempo, o ambiente propício para um maior desenvolvimento na direção de uma Economia Circular cada vez mais sustentável. Nos últimos anos, as empresas fabricantes de equipamentos de embalagem vêm conseguindo implementar conceitos sustentáveis que ultrapassam as questões das embalagens em si (matérias-primas, aditivos, estruturas). Os expositores apresentaram tecnologias de ponta e conceitos holísticos que levam em conta a eficiência e a sustentabilidade ao longo de toda a linha de produção.
A próxima edição já tem data marcada para acontecer: 7 a 13 de maio de 2026, esperamos nos encontrar por lá.
Sobre os autores
Alvaro Azanha – How2Pack
Renato Larocca – Side
Fonte: https://www.carnetec.com.br/